terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Crônicas de Solidão X




Na galeria, cada clarão/
 É como um dia depois de outro dia
/ Abrindo um salão
/ Passas em exposição
/ Passas sem ver teu vigia
/ Catando a poesia
/ Que entornas no chão...
(Chico Buarque)

"Mas deliberei isto comigo mesmo: não ir mais ter convosco em tristeza."
(2 Coríntios 2 : 1)


Não fuja da dor, tampouco da alegria
- proteínas necessárias para criar sua massa de afeto.
Deixe-me apenas te conduzir por uma breve receita.

Derrame numa panela
seu sangue escorrido em lágrimas,
um pouco de melancolia,
e sua compulsiva acidez.

Coloque açúcar,
esse necessário glicêmico
equilibrante deste molho
de agonia.

Misture tudo.
Sinta o cheiro da esperança
de que a vida - ESTA vida -
apenas escoa para outros rios.
De tão simples,
apenas sai...
vai por aí - outros lugares ermos (até felizes)

II

Então, abandone a dureza acinzentada dos seus dias
e volte à panela:

atente para o molho-vermelho-sangue da panela.
Deposite o verde-aroma de jardim
para saborear
a liberdade de ser frágil

e absolutamente humana.
Livre.
(livre-se)

Rosane Gomes

sábado, 12 de dezembro de 2015

Ficção



Dois à deriva - corações abertos,
na agonia de respirar.
Depois de muitas correntes,
são jogados na areia - triz de sobrevivência,
medo de asfixiar.
(por amar)
Boca a boca - para se salvar.
Ebeijo ebeijo ebeijo ebeijo ebeijo ebeijo ebeijo...

domingo, 29 de novembro de 2015

Secreto



Ela é sorrateira.
Vez em quando me rodeia.
Afasto-me quanto posso
para não acolher a hospedeira.

Na branda noite,
ela jamais aparece -
em seguida,
o ar fresco da madrugada arrefece.

No Claro dia,
às vezes surge
às vezes não.
Depende de onde se esconde o coração.

É uma fiel inimiga
a quem eu chamo
Solidão.



Rosane Gomes

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

A casa de Laura


A casa de Laura
acolhe cores,
abraça flores
e energia do mar.

Na casa de Laura não há porta de entrada
para infelicidade.
(A porta é de saída mesmo)

Laura é luz.
Com Laura aprendo
e me surpreendo.

Poema para Laura
Não pode ser pesado -
jamais solene.
Laura é leve – dança nas nuvens.
Mas pisa no chão.

Cores, flores e cristais
Trocam de cadeiras
em dança alegre.

Os objetos mostram harmonia.
Estátuas brincam de estátuas 
descansadas e sutis.
Retângulos rígidos no armário não brigam com quadros impressionistas -
acomodam-se ao som de melodia pacificadora.
Televisor coberto com delicado tecido - ato judaico para não atrapalhar os vivos
em meditação.

Todos os países habitam
a casa de Laura
Não há fronteiras, 
muito menos barreiras. 
(apenas um muro para energia insalubre)

Tudo é suave.
Laura ensina a esquecer,
deixar-se ir,
soltar.
Saltar...

No mais,
Laura ensina a viver.


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