quinta-feira, 27 de outubro de 2011

CRÔNICAS DE SOLIDÃO I






HOUSEWIFE

Palavras, palavras, palavras. Nada além de palavras. Ela adorava falar: no mercado, na feira, nas lojas - compulsivamente. Todos eram bons psicanalistas. Todos (com risadas de canto) eram coniventes com as dores e alegrias que preenchiam seus dias fragilizados pela inércia da vida inteira. Havia urgências, sim, como havia. Precisava do verbo para apalpar a vida.

A cada passo, um sorriso sem retorno, um outro correspondido, alguns atirados ao ar. Ela precisava.

Sempre muito arrumada, perfumada, seus brincos balançando, também fazia do caminhar nas ruas uma conversação com o mundo.

precisava precisava precisava

Os vizinhos não entendiam muito o porquê de tamanho contentamento. Se irritavam.
Era uma agonia...

E, a cada dia, entrava em casa, tirava os luxos.
Perfume, ausente.

Enfim, ela podia oferecer sorriso fraco e franco aos filhos, ao marido. E um presente para a Solidão.

Alívio do silêncio.

Rosane Gomes

2 comentários:

  1. Fantástico seu texto, traduz firmemente a idéia do que é solidão, só quem sente pode avaliar.

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