sábado, 26 de novembro de 2011

Deserção




Para minha amiga Christina


Ela vivia entre halteres na academia e fardos na vida. E ainda se preocupava com os encargos de ombros outros. Distraía-se levantando pesos. Na hora imprecisa, de músculos já relaxados, despencou - cinco andares - no chão: uma carga vermelha e fria, que um faxineiro cuidou de limpar para manter a assepsia cotidiana.
Restou no piso a cicatriz invisível da dor muda, dormindo inútil. Esquecida.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Praticidade (Com muito afeto, claro)






- O que vc acha da aliança deste site, amor?
- Vamos comprar a do outro.
- Você não gostou? Tá caro?
- Não. Fica mais fácil - é quase igual à que eu já tenho. Daí só compro uma...

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Desalento






UOU! Ela tirou o casaco.
Não era stripper. Colega de trabalho, apenas estava com calor.
Mas quem ficou quente foi ele.


Rosane Gomes

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Quem come de tudo está sempre mastigando...








Separava cuidadosamente os pedaços de inúmeras frutas podres. Não, leitor! Não era mendigo. Tudo acontecia numa pomposa cozinha .
Nem mesquinho. Os fragmentos de frutose caíam no liquidificador com gotas de gulodice.

Persuasivo





Suas palavras saíam sarcásticas. E mataria quem desvendasse a tristeza mal escondida no olhar irônico.


Rosane Gomes

LEGADO






“Eu nunca errei!”, dizia para a filha. “Se não for do meu jeito...”

Seu amor era escambo.O único deslize foi deixar uma carta afetuosa (jamais arrependida) para a filha no colchão-cofre em que jazia. Orçamento resolvido. E corações em decomposição.


OU

A mãe dizia não cometer erros.Seu amor era escambo. O único deslize foi deixar uma carta afetuosa para a filha no colchão-cofre em que jazia. Orçamento resolvido e coração estupefato.

(Quer saber, leitor? Escolha a sua versão. Não importa. O resultado foi o mesmo: do lado de lá e do lado de cá, almas necrosadas)

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

ORDEM DE DESPEJO






Ele incompreendia seus humanos. Tinham um comportamento bizarro. Por que não reconheciam nas lambidas, nos pulos e no carinho com as patas o amor? A eles oferecia tanto espaço... Aceitava qualquer coisa - um pedaço de pano era brinquedo; chão, descanso. Biscoito ou comida crua eram alimento - até pedaço de papel valia.

Mas se apartaram dele. A coleira inútil velou o pescoço extinto. Restou um apartamento oco. Surdo.

Rosane Gomes
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