quarta-feira, 12 de agosto de 2015

A minha alma tá armada e apontada/Para cara do sossego/paz sem voz, paz sem voz/Não é paz, é medo.(O Rappa)






“Quem cala sobre teu corpo/Consente na tua morte
Que a raiva traçou/Quem grita vive contigo!” (Milton Nascimento)

"Estamos chegando das novas favelas,das margens do mundo nós somos,viemos dançar.
Estamos chegando dos grandes estádios,estamos chegando da escola de samba,sambando a revolta chegamos,viemos gingar.
Estamos chegando do chão da oficina,estamos chegando do som e das formas,da arte negada que somos,viemos criar.
A DE Ó..." (Milton Nascimento)

"Mas, se ergues da justiça a clava forte, Verás que um filho teu não foge à luta, Nem teme, quem te adora, a própria morte.
Terra adorada, Entre outras mil, És tu, Brasil, Ó Pátria amada! Dos filhos deste solo és mãe gentil, Pátria amada, Brasil! "(Hino Nacional)



O que escrevo aqui vale para qualquer lado. QUALQUER LADO.
A violência se espalha a cada dia como erva absurdamente daninha, danosa, dolosa, horrorosa.
Não nos enganemos... Por favor, não nos enganemos com discursos tão gastos.
TODOS temos direito à segurança, à educação, à saúde. Todos temos direito a uma vida cada vez melhor. Todos temos direito à felicidade. 

Eu quero viajar pelo mundo inteiro. Quero comprar o melhor vestido. Quero comprar quantos livros eu puder. Adoro brincos.Quero um amor. Quero ser feliz. Tá. E daí? A mulher que mora bem perto de mim no Morro do Salgueiro também quer tudinho - tem tanto quanto eu direito a qualquer desejo. E merece a oportunidade de consumir e ter o que quiser. A questão, portanto, é ampla - diz respeito à VIDA.

Meus filhos estudaram, comeram proteína, etc, etc, etc... Os filhos da mulher que mora no Salgueiro provavelmente não.  Isso faz de mim uma CULPADA? NÃO, não faz. Isso faz das crianças sem uma única oportunidade coitadinhas? NÃO, não. Perguntem a elas se querem essa tarja. Eu já o fiz.   Fui professora de escola pública. A questão não é mais da divisão de “classes”. Estamos em estado de calamidade pública faz anos – repito, anos.
Ficamos calados. Ficamos inertes. Não fazemos nossa parte cotidiana. E não sabemos mesmo escolher quem nos represente. PIOR: nós não sabemos NOS representar. Não assumimos nada. Ficamos em cima do muro. Essa é a desgraça, hanseníase social – parece que nada sentimos na pele. 

Cito aqui, uma história cotidiana, até mediocre porém esclarecedora:
“Uma mulher marcou horário no salão. Quando chegou, soube que estava no mesmo horário de uma outra cliente. Confusão armada, claro. A dona achou melhor resolver da seguinte maneira: “Ah, me desculpe e, para reparar o nosso erro, não vamos cobrar o serviço”.
A mulher disse NÃO. Não, não estou à venda; vou pagar pelo serviço, sim e arrume um jeito de organizar melhor seu salão.Bobagem? Ah, ela estava exercendo sua cidadania no pequenininho.
E é nesse pequenininho que temos de atuar também. É no microcosmos do trabalho, das ruas, dos serviços comunitários (sem assistencialismo, por favor, ok?), é no microcosmos das ações ou lutas (e delicadezas) diárias – que vão desde não jogar lixo no chão da rua até o infinito de coisas que possamos fazer para tornar esse mundo menos pavoroso.

“Cidadão de bem” ? Tá. O que esta expressão quer dizer exatamente? Classe média? Classe alta? Os que moram em “comunidades” (não, não mascarem não! É favela mesmo). Quem tem direitos? Todos os cidadãos, ponto. sem predicativos. (Bandidos, estupradores, assassinos têm direito à cadeia, claro está - sem senões)
Então? Como ficamos? Ah, já sei. Não ficamos. Ou ficamos parados.
Com certeza vou ouvir ou ler ataques do tipo “queridinha, leva pra sua casa então”
Que venham. Isso já se tornou banal. De muito usada a frase já não fere.

Choro e grito pelo médico, pelo menino morto por bala perdida no morro, pelo menino que aponta uma arma e não um lápis de cor, pelo menino que não leu Monteiro lobato, pelos meus filhos que têm medo, pela mãe que chora por uma escolha errada do filho, qualquer que seja a tal “classe social” dessa mãe ou do filho. Choro e grito por todos nós. Pela ignorância de todos nós. Eu choro até pelos equivocados e perigosos no youtube a incitar violência contra aqueles cuja opção de vida não é a deles.Choro e grito pelo uso do ódio e não das atitudes corretas.

Há que se tomar providências? Sim. Temos de pedir proteção? Sim. Proteção para todos (ninguém quer ser assaltado ou morto) e, sobretudo,proteção com relação a nós mesmos, pois estamos perigosos. Repito: nosso discurso tem sido de ódio. Nossa. Voltamos à barbárie? 
Vamos à ação. Ação. O país nunca esteve tão caótico.

Ainda não conseguimos nos garantir os direitos básicos como o da liberdade, da moradia digna, da saúde, da educação e do trabalho. Enquanto isso não for realidade, preparemo-nos para mais violência, mais injustiça, enfim, mais malhação Judas em sábado de Aleluia, seja médico, professor, “menino de rua”, empresário, faxineira, ihhhhh a lista é longa. É violência garantida a todos.
Eu não sei se sou a favor da redução da maioridade penal. Não sei. Sei que sou a favor de uma MAIORIDADE CIVIL neste país.  

Anote aí: Meu nome é Rosane Nunes Gomes, cidadã brasileira. E não desisto. Insisto.


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“Consideramos estas verdades como evidentes por si mesmas, que todos os homens são criados iguais, dotados pelo Criador de certos direitos inalienáveis, que entre estes estão a vida, a liberdade e a procura da felicidade.” (Declaração de Independência dos EUA)

"Artigo 5º da Constituição Federal (brasileira)  Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição; II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei; III - ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante; IV - é livre a manifestação do pensamento"IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença; X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente" 






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