quinta-feira, 9 de outubro de 2014

I.N.R.I.


"Guarda a tua língua do mal, e os teus lábios de falarem dolosamente." Salmos 34:13 

"A boca do tolo é a sua própria destruição, e os seus lábios um laço para a sua alma." Provérbios 18:7


As árvores na frente da casa estão com folhas secas,
solidárias com minha pele murcha de suor vermelho.
Aquele que perdeu 300 moedas de prata,
acorrentou minha mágoa.
Recebi intimação apenas para me calar
Saber calada.

Quantas segundas faces ofereci a cada tapa,
Empurrão,
Braço torcido,
Cabeça ao pé do fogão?
Perdoei.
Acolhi.
Vivi no limite do risco da violência.
Ouvi um dicionário de impropérios.
Engoli.

Mas as nauseantes moedas não descerão pela minha garganta.

Só peço à Virgem que me conceda a
liberdade de não mais estar próxima.
Se ousar com os olhos, empunho integridade afiada,
e, ausente de perdão, alimento a lucidez que me habita
para desjuntá-lo da cabeça ao solo.
Só nos conciliaremos no minuto em que a terceira Moira cortar nossos fios.

Quando escavadores descobrirem meus ossos,
encontrarão pontiagudos como a língua que atravessou meu ventre
E as reluzentes 300 estarão nas mãos de outro Iscariotes,
depois de beijar mais uma face desavisada e inocente.


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