sexta-feira, 19 de março de 2010

Dieta








Vontade de fazer um poema.
Infelizmente meus hemisférios
resolveram brigar.
Entre o criativo e o prático,
discutemCoisa à toa, cotidiana.
Mas quero escrever.
Impossível:
a casa pra arrumar
mercado pra comprar
filas pra esperar
contas pra pagar
trabalho trabalho trabalho
Celular, péssima invenção
na vida da escritura.
Pertubômetros, chatômetros
- com tabela, velocímetro e tudo mais-
me obrigam ao corte de calorias sintáticas.
Vou consultar a tabela,
ver o quanto cada palavra me pesa.
E mais
Será que tomo pílula de desescrever?
Vai que um dia engravido de palavras...
Arrumo namorado não!!!
Quem vai assumir a criança?

domingo, 14 de março de 2010


Dilema

tamanho sofrimento
irritação
choro
desespero
desprezo
asco

carrasco!
não falo mais.

mas a voz dele me envolvia como seda...

sexta-feira, 12 de março de 2010

Desacerto II







"Com ela, sim, me entendo bem melhor.Mãe é muito mais fácil de enganar.Razão, eu sei, de mais aberto amor" (Drummond)

A casa era caórdica.

Filhos adolescentes. Ora sala vazia, ora tênis no caminho. Vida comum, até boa.
Ela adquirira, com o tempo, várias repressões, convivências, dependências, carências...tudo dentro da sacola de mercado junto com o sabão em pó.
Organizava a casa e a vida de todos. Afinal, era mãe.

vocês vocês vocês vocês vocês vocês vocês!
Eu era pronome profano. Como pensar em si?
Absurdo de irresponsabilidade e falta de comando.

Repetidas vezes encarnava o expressionismo de Munch. Ela era O Grito. Sobrevinha uma angústia existencial diante de brinquedos não avaliados e aprovados.

O quadro berrava:
JeSUS! Não abre essa caixa! As bolas são pequenas,são perigosas,esse menino vai pegar,colocar na boca, vai engolir, vai sufocar. NÃOqueroESSEbrinquedo! Ai, Meu Jesus!

Haja fôlego para tanta vírgula... E haja Jesus para tanta mãe...
(mães são videntes, além de  médicas, enfermeiras, professoras. Mãe sempre tem notório saber)

Sai daí! Não implica com sua irmã!
Onde já se viu largar meia no chão?
Não cospe na comida!
Entra na piscina, filha, o professor vai ficar perto. ENTRA NA PISCIIIIIINAAA!
Você pode colocar meu filho em um dos times? Ninguém escolheu...

JÁpracamaDORMIR! E... (o que ia falar mesmo?) PRONTOtáVENDO? Esqueci o que ia falar. Me tira do sério pra ver...
QuandoTIVERfilhosvaiSABERCOMOÉ,

Dia a dia, a vida saindo das artérias. Dia a dia, a jugular em risco.

Não sabia que filhos precisam crescer - independente de -, nem sabia que ela precisava crescer, colocar a si mesma nos lugares certos da alma.
Nunca. Jamais.
Agora era o tempo deles, como lhe dissera a avó. Transformara-se paulatinamente em personagem de histórias alheias.

Figurante, um dia parou.Silenciou. Correu.
Saias rodadas, decotes, cor nos cabelos.

Família, filhos e amigos finalmente viram as felizes imagens do salto em queda livre.
Muito LIVRE.



DESACERTO



Tudo no lugar: asséptico. Casa cenário.
Não pessoa, mas personagem, se comunicava assepticamente também.
Autossuficiência e ter razão lhe bastavam: detergentes.

Eu eu eu eu eu eu...
Faltavam-lhe no léxico outros pronomes...
Pela ausência morfológica, ausente de partilha.
Convivência sim, comprometimento jamais.
Culpa da Assepsia.
Dia a dia, a vida saindo das artérias. Dia a dia, a jugular em risco.
Nem sabia que pessoas precisam minimamente de suor e pó. Não. Nunca.
Detersivo, descaracterizava e corroía quaisquer faces, falas, sensibilidades
que lhe trouxessem ruído para as cenas cotidianas.
Sujeira jamais.
Afinal, bastava-se a si mesmo.

Criador dos enredos, disse um dia: corta!
Pulsos rasgados. Sangue.
O corpo foi encontrado numa calçada em absoluta desordem.

quinta-feira, 11 de março de 2010

Vazio






Espaço
das potências energéticas
e flutuações quânticas
que se pode
transformar
em
verbo.




"... o tempo, o tempo, o tempo e suas mudanças, sempre cioso da obra maior, e, atento ao acabamento, sempre zeloso do concerto menor, presente em cada sítio, em cada palmo, em cada grão, e presente também, com seus instantes, em cada letra desta minha história passional, transformando a noite escura do meu retorno numa manhã cheia de luz..." [Lavoura arcaica]

Tempo e aprendizado me levaram à escrita. Muito tempo. Tempo perdido. Tempo que corre. Vida que leva.
Imagens fônicas e gráficas que acompanham as imagens do cotidiano.
Nada além de querer, como Fernando Pessoa, [alcançar] "todos os sonhos do mundo"...
Rosane Gomes
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