sexta-feira, 12 de março de 2010

DESACERTO



Tudo no lugar: asséptico. Casa cenário.
Não pessoa, mas personagem, se comunicava assepticamente também.
Autossuficiência e ter razão lhe bastavam: detergentes.

Eu eu eu eu eu eu...
Faltavam-lhe no léxico outros pronomes...
Pela ausência morfológica, ausente de partilha.
Convivência sim, comprometimento jamais.
Culpa da Assepsia.
Dia a dia, a vida saindo das artérias. Dia a dia, a jugular em risco.
Nem sabia que pessoas precisam minimamente de suor e pó. Não. Nunca.
Detersivo, descaracterizava e corroía quaisquer faces, falas, sensibilidades
que lhe trouxessem ruído para as cenas cotidianas.
Sujeira jamais.
Afinal, bastava-se a si mesmo.

Criador dos enredos, disse um dia: corta!
Pulsos rasgados. Sangue.
O corpo foi encontrado numa calçada em absoluta desordem.

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