O amor se espalhou por aí deixando pedaços de luz para os corações escurecidos.
Certas verdades ficam apenas escondidas esperando ninguém -
porque seria insuportável conhecê-las. Livro dos Descasos
I
Depois de morta a ilusão
Ficou o resquício da dor
de aprender
que
move on
foi somente atravessar para o outro lado da mesma rua.
II
Carecia me emendar.
Precisei e adorei e detestei deslembrar
Mas confundi.
Pus a mágoa onde não devia.
Realoquei.
Lavrei em cartório
o olvido;
despedi-me das
lembranças,
despojei-me das amarras,
enojei-me das amarras,
larguei de mim
Adicta da dor,
perdi saúde
ânimo
alegria
motivo
sorriso
arranquei os dentes - sem vontade de abocanhar a vida
Abandonei letras e músicas,
tralhas sonoras de tanta alegria vã.
Afinei,
desafinei -
não consegui chegar a um tom audível.
Definhei.
Sofri por não ser adequada,
como quem sofre de fome.
Sobrou nada que amasse o coração.
Ficou o vazio
terrível vazio
horripilante
cruel.
III
Forjei meu atestado de óbito
para poder renascer
de novo
e de novo
e de novo
até estar certa de que iria chegar a uma forma indissolúvel
e tentei me pôr inteira
tentando não cair aos fracassos
como naquele...
(Quantos anos são necessários para reconstruir um instante?)
IV
Provei de tudo para não me arrepender
creditei convicções
acreditei nas palavras
pus fé
retirei meu último pedaço de útero - não pude parir a dor
que ficou alojada no fígado
deixei lá...
derradeira gota de bile
e pronunciei liberdade, na esperança de que a coisas nomeadas se tornassem reais
e não.
sobrou ressurgir sem um gêmeo
único óvulo fecundado
solitário
desigual.
V
Um dia amanhecido,
surpresa,
segui.
coisa maior...
atravessei a rua
E agora ela me levava a outra e a outra e a outra
ad infinitum
eu não sabia se seria tão fácil
bastou tirar os grilhões de sentimento
os nós na garganta resultantes de cada desprezo, dos vários nãos, dos não posso
dos estou com pressa, depois te ligo, nos falamos, vou viajar, celebro a vida
Etc
Etc
Etc
Ficou o alívio de que à tout à l'heure agora se traduzia por até nunca mais…
VI
O Deus que hoje habita em mim é paciência, amor e indulto.
O bom da vida é sempre recomeçar.
Pura libertação.
Rosane Gomes
Querida amiga, estou encantada.....caiu como uma luva......fato que sempre podemos recomeçar em qual quer situação. Parabéns simplesmente Perfeito!!!! Bjs.
ResponderExcluirQuerida Joana, fico feliz com saber que gostou do texto. É um grande incentivo! bjs
ResponderExcluirLindo!
ResponderExcluirAMEI O TEXTO. E lanço todas minhas energias para que a página tenha sido virada, expurgada a dor e lavado a casa, sem deixar pregos na parede da alma. Beijo, grande Rosane.
ResponderExcluirGostei do blog, sensível e delicado, parabéns... continue divulgando cultura, a humanidade agradece...
ResponderExcluirAbraços
Obrigada, Cylo!
ResponderExcluirObrigada, M., pelo incentivo.
ResponderExcluirAbraço,
Rosane