terça-feira, 3 de março de 2015

Vitupério



“Eu botava a mão/No fogo então/Com meu coração de fiador...” (Chico Buarque)
"Aquele que odeia dissimula com seus lábios, mas no seu íntimo encobre o engano" Provérbios 26:24

Especialmente hoje, gargalhadas me incomodam.
Esquisitei.
Porém posso evitar, agora, que me transpassem
com parvoíces. Estou segura. Imune.

No primeiro domingo,
Não estava preparada.
Ele voltou excessivo e desorientado.
Assustei, inquietei, pedi.
Dormi às 3 da madrugada,
com minha alma cheia de sustos.
Dia seguinte, ouvi a voz mansa.
Pareceu-me desigual.

No segundo domingo,
Estava perto e presenciei
a cena etílico-destruidora
sem poder reagir.
Depois, dentro de um carro,
vi um Marechal em guerra.
O olhar paranóide apontava,
sucessivas vezes,
para qualquer ato não feito por mim.
Suas alucinações acusatórias espalhavam mau cheiro no ar.
O céu escureceu.
A trovoadas verbais foram ouvidas em toda cidade,
convidando moradores a se proteger.
Fiquei nua, sem defesas.
Saí do belicoso delírio e
voltei ao ninho seguro de minha terra.
Dia seguinte, não ouvi arrependimento -
Eu o li  – uma mistura de desculpas com concessiva e final de memorando.
Incoesa escrita. De nada valeu.

No derradeiro domingo,
esperei até o coração ficar seco e mudo.
Novamente ouvi impropérios.
Voltei ao ninho na esperança de me proteger.
Dias seguintes, nada houve além do silêncio.
Ele sumiu.
Meu corpo secou, empalideceu,
doeu-me a cabeça, o ventre, os olhos, o peito, o plexo.
Atrapalhei as palavras. Perdi o poético.
Mas não por muito tempo.

Agora vivo ausente dessas memórias – eram por demais mentirosas.
Agora vivo. Intransitiva.
Recôndito distante de um abrigo vazio.





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