quinta-feira, 2 de abril de 2015

Mariana




“Fique assim, meu amor, sempre assim/E se lembre de mim pelas coisas que eu dei./E também não se esqueça de mim/Quando você souber, enfim,
De tudo que eu guardei.” (Valsa para uma menininha)
“E quando lavarem a mágoa, E quando lavarem a alma E quando lavarem a água, 
Lavem os olhos por mim... Quando brotarem as flores, Quando crescerem as matas, Quando colherem os frutos, Digam o gosto pra mim...Digam o gosto pra mim...”(Aos Nossos Filhos)
I
O primeiro som não foi choro,
foi melodia.
Obstetra, pasmo,
disse “ bravo!"

Boca de leite de peito,
desejo de dedo na boca,
choro-vontade-de-colo.
Curuminha cresceu.

II

Menina-luz
aluada
lunar
doze aninhos - toma banho de lua com a mãe.

Feliz,
toma sol também.
Soleada, 
segura e acaricia a bem-me-quer.
Aspira sempre mais do contentamento...
Da tristeza,, tira um sabor madurinho-carambola.

III

Noite sem luar chegou.
Outono trouxe o manto escuro,
e entristeceu os olhos de menina.

IV

Curuminha amadurou precoce.
Ainda assim, alimentou de alfazemas
os arredores.

V

Ventos na varanda, 
trouxeram solidões.
Aproximaram perigos.

VI

Curuminha vela a mãe da ventania,
leva brinco-de-pricesa,
lava mágoa,
toma conta.
Zela. Vela.

Sofre com dores evitáveis,
inevitáveis,
impossíveis,
mas levanta.
Levita.

Sacode a amargura,
faxina a dor.

Enfrenta, sem medo,
as consequências de ser
audaz.

E borda com meigas orquídeas -
de um constante amanhecer pacífico -
as paredes pungentes da casa.


VII 

Ventos mornos na janela trouxeram aconchego.
Curuminha com uma corda de violetas, saiu do abismo.
Mexe os cabelos
de ainda-menina
e, sorrindo luminosa,
fragiliza as maldades
sem poréns.

Malagueta e mel.
Bela - e fera.

Minha absoluta - e única - ternura.




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