Estala, coração de vidro pintado!(Álvaro de Campos)
Guarde no corpo
a gota de salgado suor que caiu em seu íntimo,
fazendo caminhos que somente eu consegui.
Use o carinho mais urgente
para recuperar o tempo perdido
com inúteis mazelas.
Escorra a mão no meu rosto,
permitindo que meus olhos se avizinhem aos seus.
Desperta em mim as chamas apagadas
por aquele sopro com hálito de descaso.
Deixe que eu sinta os braços e pernas presos
ao seu sorriso
e usa a boca para marcá-los,
pedaço em pedaço, com uma ternura lasciva –
e, por ordem do amor, canonizada.
Depois, deite ao meu lado em liturgia.
Permita que o silêncio acasale nossos corpos,
usando sua língua para pousar na minha uma hóstia.
Então fiquemos assim,
contempladores que seremos,
a orar, comungando um poente mudo de paz.
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