segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Fortuna


"Quem não acredita em que quebrar espelho dá sete anos de azar?" ( HypeScience )

Não acredito em azar de espelho quebrado.
Creio no azar que um par de brincos e um vestido azul marinho me trouxeram no meu pior dia.

No pior dia, aquele olhar maligno me ameaçava com agonia, tristeza e medo da vida.
As gargalhadas alheias não me contagiavam.
Havia uma parede invisível que me isolava dos risos.
Adultos e crianças não me enxergavam,
muito menos as águas do rio.
Temi pela perda de alegria.
Orei meu profundo choro a Deus na esperança de que tudo voltasse ao normal.
Pedi solução para o que, naquele momento, me era inefável.
Fiz o que nunca imaginei para me salvar.
De nada adiantou.
Me vi, num distorcido espelho, errar a porta do juízo.

Perguntei ao sábio ex-aluno o que fazer -
ele disse: quantas rosanes há em você? Encontre-se.
Procurei, cacei, fucei até o limite do esgotamento.

Na estrada em que corria meu desnorteado sangue, encontrei meu pai.
Cheguei a ouvir a voz protetora dizendo:
"Levanta, resplandece, porque vem a tua luz"
( amparo bíblico)

Só assim pude me ver.
Só assim pude me resgatar.
Só assim pude reagir.
Encontrei a mais legítima de mim – ousada -,
e consegui rasgar o casulo podre em que me meti.
Então pude voar leve como borboletas azuis.

Abro agorinha mesmo a porta e recebo a Delicadeza com braços abertos e sorriso muito largo.

Um comentário:

  1. A Musa Enferma - C. Baudelaire

    tradução Jamil Almansur Haddad

    Ah, minha pobre musa, o que tens esta vez?
    Teus olhos ocos são todos visões noturnas
    E alternativamente refletes na tez
    Loucura com horror, as sombras taciturnas.
    Sobre ti, róseos duende e súcubo esverdeado
    Derramam o medo e o amor de suas urnas?
    O pesadelo, o punho despótico e irado,
    Afogou-te no fundo de incerto Minturnas?
    Quisera que, exalando o aroma da saúde,
    Fosse teu seio só a força e a juventude,
    Que o teu sangue cristão fosse fluxos marítimos
    Como o inúmero som destes antigos ritmos
    Em que alternam seu reino o inventor da cantiga
    Febo e o divino Pã, o senhor da áurea espiga.

    ResponderExcluir

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...