sábado, 12 de dezembro de 2015
Ficção
Dois à deriva - corações abertos,
na agonia de respirar.
Depois de muitas correntes,
são jogados na areia - triz de sobrevivência,
medo de asfixiar.
(por amar)
Boca a boca - para se salvar.
Ebeijo ebeijo ebeijo ebeijo ebeijo ebeijo ebeijo...
domingo, 29 de novembro de 2015
Secreto
Ela é sorrateira.
Vez em quando me rodeia.
Afasto-me quanto posso
para não acolher a hospedeira.
Na branda noite,
ela jamais aparece -
em seguida,
o ar fresco da madrugada arrefece.
No Claro dia,
às vezes surge
às vezes não.
Depende de onde se esconde o coração.
É uma fiel inimiga
a quem eu chamo
Solidão.
Rosane Gomes
segunda-feira, 16 de novembro de 2015
A casa de Laura
quarta-feira, 16 de setembro de 2015
Poema para Rogéria
"Eu vejo esses peixes e vou de coração / Eu vejo essas matas e vou de coração à natureza..." (Milton Nascimento)
"E Jesus disse: amarás o Senhor Teu Deus de todo coração/ Amarás o próximo como a ti mesmo" Mateus 22
Rogéria, amiga de anos, lembra-me energia do mar,
sonho bom,
placidez de matas verdes,
sonatas,
carnaval.
E um belo quintal,
onde tudo cabe:
os cheiros gostosos - farofa com banana,
peixes em recipientes brancos,
arroz integral,
amor integral.
A mesa posta com requintes de simplicidades:
brigadeiro com avelã.
II
Ousada, tento descrevê-la:
delicados
gestos
precisas palavras
colhidas
no empenho de ser
amável
- embora com sinceridades necessárias.
cortantes
Olhar presente: sem tempo para hanseníase na alma.
quarta-feira, 2 de setembro de 2015
José
Vigia, em que pé está a noite? -Vem a manhã e também a noite.Se quereis perguntar, perguntai.Voltai e indagai outra vez" (Isaías,21:11)
Radiografia de mim.
quarta-feira, 12 de agosto de 2015
A minha alma tá armada e apontada/Para cara do sossego/paz sem voz, paz sem voz/Não é paz, é medo.(O Rappa)
Vamos à ação. Ação. O país nunca esteve tão caótico.
quinta-feira, 16 de julho de 2015
Para Milton Nascimento (ou - Será que eu ganho um beijo?)
"O amor enfim ficou Senhor de mim/E eu fiquei assim,/Calada sem latim/Coisas da vida
Amor é dom da natureza/Amar é laço que não escraviza." (Milton Nascimento e Fernando Brant)
ELE é a magia que vem do mais profundo Sertão Veredas; a Mantiqueira que faz ecoar a VOZ em todos os cantos do mundo; a VOZ a honrar a Mantiqueira, preservando ambiente alto e rochoso, lugar em que as matas estão (ainda) resguardadas da ambição e maldade humanas e mantendo o encanto de folhas e pássaros livres. Somente a VOZ inigualável pode cantar aqui do Rio e fazer chegar, sem Internet, apenas com sua força, um brilho de sol poente ao oriente (que significa nascimento).
Na minha adolescência, quando eu sofria, ele
me falava: para o que não tem mais
razão, a calma do louco ensinou a dizer nada; para o que não tem mais
nada, a calma do louco ensinou a dizer – razão.
Somente ELE me convenceu de que algum romantismo é bom – ele pôs um
girassol da cor do meu cabelo ao pé da porta quando eu tinha 13 anos. E o velho
maquinista, com seu boné, segue a me lembrar um povo alegre que vinha cortejar
a Maria fumaça - para moças, flores, janelas e quintais. Se o ouço ou vejo,
choro. E sei que é impossível não acreditar em Deus.
Rosane Gomes
Rosane Gomes
quinta-feira, 18 de junho de 2015
Um poema
"O que é o amor Rosane, em sua visão?" (Rozeli Rufino)"Saio de meu poema como quem lava as mãos/algumas conchas tornaram-se/que o sol da atenção cristalizou/alguma palavra que desabrochei/como a um pássaro."
"Cultivar o deserto como um pomar às avessas" João Cabral de Melo Neto
A palavra depositada com delicadeza
e cuidado na branca folha
Em que um pássaro também descansou.
Dialogam palavra e pássaro.
Não lhes é difícil: pássaros entendem sons
e respeitam palavras, sobretudo as que estão em estado de ninho.
Palavras reverenciam as asas – porque livres, levam
significados para além das nuvens ou o mais profundo oceano.
Pássaros compreendem as solitárias palavras querendo voar
em bando a construir o poema.
A mão que segura a tinta
Tem de cuidar para não inibir as aves,
marias, a orar e voar versos livres.
A palavra já nasceu desinibida, não carece
cuidados tantos – aparece e desaparece quando quer.
Etcéteras chegam ao branco papel,
importunando, mas sem sucesso.
As aves e as marias já solidificaram
sons e cores.
As palavras atuaram com sua
garantia de profusão de significados
ou sentidos (o leitor que se vire e mire)
Assim deve ser o poema:
diálogo entre pássaros, palavras e gentes
dentro de solo branco
feito de mortas árvores.
Somente dessa maneira as defuntas árvores
podem descansar: lhes deram valor poético.
A madeira, matéria - mater (origem do nome
de tão bela fonte de folha e flor) honrará a
raiz arrancada: mater dolorosa a gerar beleza.
Súbito, a escrevente mão descansa acanhada
pelo sol que entra pela fresta de janela
e pensa os vindouros versos.
O solar não queima; aquece os dedos
reunidos e cansados de tanto laborar,
bem como o coração obreiro de tanto esperar pelo papel
preenchido de sensações para o olhos verem.
Valerá então o poema: sem exclamações.
Estas não cabem – seria uma afronta à escrita
que, expressando mais puro sentimento,
já é clamor, brado, voz (muitas das vezes
no silêncio de dentro do operário coração)
Valerá o poema se for suave e leve -
reticências a viver espera
de reencontro, feliz ou triste -, com mão
e tinta a manchar o branco com ponto e vírgula –
entressono entre a continuidade da vírgula e o ponto final indesejável.
O poema, se de amor, seguirá seu curso obrigatório de
existir seco, rígido (até cortante).
O mel, caso injetado, atrairia sucessivas colmeias a
machucar a esperançosa madeira que se fez verbo
pelo pecaminoso ato de adoçar aquilo que carece de exatidão e rigor.
Amor não é romântico.
Poema-amor deve ser preciso e sério como petição a Deus.
Ou a um adeus.
O próprio amor, palavra jamais definida,
de tão abstrata e impossível de reter com os braços,
não suporta a adoçante cera.
Quer apenas valoroso pigmento -
o mais escuro -, a dar-lhe visibilidade.
Amor só se vê pela tinta,
ou pela junção de corpos
ou pelo acariciar de almas.
E amantes bizarram;
Quando amam não ficam normais.
Quando desamam, muito normais.
Amor debocha de filosofia e dicionários.
Amor é. Sem predicativos ou elucidações.
Amor não se define..Acontece.
Madeira, árvore, floresta
Mater.
Matam-se para declarar amor.
E o amor, portanto, na sua gênese,
morre para renascer em branco papel e tinta.
E principalmente na alquimia culinária de potes de cozinha
com seus temperos: pimenta nas palavras de afeto,
maracujá na dor e sal – o sódio é admirável
conservante dos versos de alegria (normalmente muito perecíveis)
Vale sempre uma pitada de neologismos
sem muito estilo para não parecer soberbo.
Equisitar é palavra que se aplica.
Jamais esquecer de que tudo deve ser
Oferecido em pranto saboroso
(às vezes se carrega na acidez...)
Há sabor nas palavras.
(deguste impensável a quem tem hipogeusia seletiva)
sexta-feira, 12 de junho de 2015
Por que se foi
terça-feira, 26 de maio de 2015
Crônicas de Solidão XIII - Palavras Íntimas
sexta-feira, 8 de maio de 2015
A um ausente - para José Saramago (texto escrito um dia após sua morte)
"Chega mais perto e contempla as palavras. Cada uma tem mil faces secretas sob a face neutra e te pergunta, sem interesse pela resposta (...) Trouxeste a chave? (Drummond)
(José Saramago - 16/11/1922 - 18/6/2010)
Tristeza por ter perdido alguém cujos livros ora me revoltavam, ora me apaixonavam.
Sim, perdi, não porque o tivesse na convivência pessoal ou em presença (como queiram);
perdi a futura convivência com novas brigas e identificações. Eu ousava falar com ele em cafés, passando por lunática; fechava livros prometendo não mais lê-los. Lia 3, 4 vezes o mesmo livro.
Saí de uma livraria recentemente brigada com ele (“como você ousa se referir a Eclesiastes desse jeito?”). O livro se chama Caim.
O conto da ilha desconhecida foi uma demostração de afeto e doçura - logo dele, cuja “montagem humana” era ácida.
As Intermitências da Morte foi um tapa na cara. Ensaio sobre a cegueira, outro.
O Ano da Morte de Ricardo Reis, deixei pela metade. (uma das maravilhas de ser leitor é a liberdade; outra, a intimidade com os textos - e com um cheiro dos livros que nenhum perfume francês jamais alcançará)
E as epígrafes! Procurei feito doida (como também um monte de gente que conheço) o Livro dos Conselhos (“ Se podes olhar, vê; se podes ver, repara”); o Livro das Evidências (“Tu sabes o nome que te deram, mas tu desconheces o nome que tens”) - pra, depois, ler entrevista no jornal: “eu inventei esses livros”. Quase fui a Portugal esganar o desinfeliz.
Ah, ele seduzia... e como!
E o seu maior encanto era o de não se querer encantador.
Um delicioso saber agridoce se ausentou dos meus olhos hoje. E não sem pena. E não sem dor.
Não sei se pessoas por aí entendem o que é de fato o amor pela leitura. Pois digo: é um amor visceral, é amor eterno (livros nunca nos abandonam), é o amor pela imagem (sim, escrita é imagem em grafemas), é amor que faz doer, mas sem dolo, é amor que aquece, enraivece, acolhe, instiga, vicia (sempre queremos uma dose a mais). É amor. Ponto.
Quando tenho a notícia de que um escritor morreu, meu coração sangra. Menos arte e talvez mais maldade no mundo. A beleza das palavras não é para poucos. É para todos. Basta chegar...
Não se espantem com meu sentimento. Não acusem. É legítimo. Por favor, não me nomeiem intelectual; não gosto da palavra. Aquisição de conhecimento alimenta o espírito.
Louca? Sou. Já abdiquei da companhia de namorado pra ler - mesmo sendo uma adolescente que sempre adorou permas, tríceps, bíceps...o pacote completo. Louca e estranha. Esquisita na visão de algumas muitas pessoas. Até hoje sou desigual. Mas quando eles (os livros) me olham daquele jeitinho faceiro e sedutor eu agarro. E beijo com os olhos.
Jamais percam a chance de ler (só vai aqui um aviso: José de Alencar provoca enjoos e gastrite, tomem café da manhã leve).
Acreditem: a cura da alma, muitas vezes, se faz por meio das palavras. Até porque a leitura é ato sagrado, é liturgia.
Rosane Gomes
Soli Deo Gloria
terça-feira, 28 de abril de 2015
Partilha
quinta-feira, 2 de abril de 2015
Mariana
De tudo que eu guardei.” (Valsa para uma menininha)
Lavem os olhos por mim... Quando brotarem as flores, Quando crescerem as matas, Quando colherem os frutos, Digam o gosto pra mim...Digam o gosto pra mim...”(Aos Nossos Filhos)
segunda-feira, 30 de março de 2015
Conversas de Internet
Toda vez em que há um gesto de amizade, Cylo, nasce uma nova e muito colorida bela flor no mundo. Você, por exemplo, fez crescer uma margarida azul.
domingo, 15 de março de 2015
No Sétimo, O Descanso
“Brigam Espanha e Holanda/Pelos direitos do mar/ Brigam Espanha e Holanda, porque não sabem que o mar.../ É de quem o sabe amar” (Milton Nascimento - Leila diniz)
"Eis que és formoso, ó amado meu, e também amável; o nosso leito é verde".
Cânticos 1:16
Aquele que me balança os navios
tem morada distante
Eu nada te peço, Deus,
senão a continuidade do tempo.
E, em que pese a distância,
assinatura da derrota - consumida, mas recuperável -,
traz um sinal de beleza na minha face
e me responde:
Que faço eu para aconchegar oceanos?
Como aproximo chão e chão?
Qual fórmula equaliza
amores filhos, amores mães, amor-amor?
Ventos do sul me levam
Vozes quentes e sudestes me prendem
Que faço Deus?
7 orações?
7 partidas?
7 chegadas?
Olho para fora, não vejo paisagem.
Tenho apenas a janelar memória: peixe na panela, arroz, pratos vibrando a comida com cheiro gostoso de afeto.
Antes, a vara, a pesca da madrugada sobre o mar aquecido de alegrias refeitas de sonho bom
Que faço eu Deus?
fala comigo!
7 orações?
7 partidas?
7 chegadas?
Qual caminho me leva com segurança e sem bússola
ao porto convicto?
Me diz, pai!
fala comigo!
dos naufrágios eu sei,
Você sabe.
Mareante,
já engoli a água,
já cuspi mágoa,
caí.
Quase afoguei.
Os ventos estão gelados - sinto frio, dor
Agora faz!
Isenta a distância.
Aquele que balança os navios
Saiu do mar,
Está na areia à espera.
Ficou sem embarcação...
Me traga um veleiro então.
Eu vou.
Rosane Gomes